sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O ciclo do Pão nas terras da beira raiana (2)



2- A preparação da terra

As terras destinadas a produzir as cearas tinham e penso que ainda têm ciclos próprios que os lavradores por norma respeitavam até por que se o não fizessem o resultado da produção era inferior.
A preparação da terra é uma tarefa demasiado importante para que dela se não fale quando alguém pretende explicar como era a vida no mundo rural nos anos 40 a 60 e até 70.

A terra destinada a uma das culturas de sequeiro, que se semeava por volta de Setembro Outubro, tinha que começar a ser preparada no ano anterior na mesma altura. Isto é, para se semear uma terra ela tinha que vir sendo lavrada durante um ano.
Depois de semeada a ceara ela apenas era colhida, ceifada, em Junho do ano seguinte.

Uma ceara que acabou de ser ceifada não deve ser lavrada no ano seguinte, para que a terra possa “descansar”. Isto leva-nos  à conclusão óbvia de que para garantir determinada área semeada anualmente era necessário ter 3 vezes a área dessa terra:
Uma para estar a descansar (em poisio);
Outra para estar a ser lavrada durante o ano (a arada);
Outra para estar semeada (A seara).

Na preparação da terras para as cearas de centeio o trabalho era quase exclusivamente feito por homens pois as tarefas eram bastante duras e a compleição física dos homens era mais adequada. Para as mulheres eram reservadas tarefas mais leves.

A preparação da terra implica a execução de várias tarefas feitas ao longo do ano  por forma a que, semeado o cereal, haja maiores probabilidades de uma melhor colheita. O objectivo sempre foi e continua a ser o mesmo:
Com a mesma matéria prima produzir o máximo que se puder.

As razões que levavam à preparação das terras para as culturas e principalmente para os cereais mantêm-se actuais apesar de terem sido introduzida a  mecanização quando a dimensão das terras o permite. Isto por que nas zonas da beira raiana a dimensão das parcelas de terreno é pequena e muito retalhada e pior que tudo por norma murada. É um hábito antigo que tem que ver com a noção de posse e propriedade que ainda não foi eliminado e não sei se alguma vez o será. Terras de pequena dimensão, com muros na sua periferia, dificultam e ás vezes impedem que se possa usar um trator. A esta situação junta-se uma outra e que tem que ver com a orografia dos terrenos, muito declivosos em certas zonas.

No fundo, lavra-se a terra para a tornar mais mole. A terra fica mole quando tem ar no seu interior. Arejar a terra lavrando-a ao longo do ano várias vezes é torna-la produtiva  pois para além de eventuais fertilizantes orgânicos poderem ser enterrados em qualquer das diferentes fases mas de preferência nas mais próximas da sementeira, no fundo o que estamos a fazer é a oxigenar o subsolo permitindo assim às futuras sementeiras germinarem e crescerem.

Um solo duro não tem grande quantidade  de oxigénio. Lavra-se para o oxigenar  e torná-lo fertil e mole. Uma terra mole, onde se enterram os pés quando passamos por cima dela, é uma terra que para lá dos nutrientes orgânicos ou não contém dentro de si muito ar. Não está calcada. É uma terra em que, qualquer chuva se infiltra facilmente.
Mas para a terra ter estas características é necessário realizar sobre ela um conjunto de operações que levarão àquele resultado. A forma e os meios utilizados para chegar aquele fim é que podem variar ao longo do tempo e conforme vamos tendo novas tecnologias.
(continua….)

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