1-Introdução
Nas zonas da beira interior mais
próximas da fronteira e provavelmente noutras, nas décadas de 40 a 60 do século
passado, o pão desempenhava na alimentação dos residentes o papel mais
importante de todos os componentes da alimentação.
O pão, em paralelo, com as
batatas e leguminosas constituíam praticamente
a quase totalidade da alimentação das gentes naqueles tempos.
“Casa onde não há pão, todos
ralham e ninguém tem razão” dizia o
ditado.
Tendo o pão a importância que
todos reconhecemos, não parecerá estranho que sejam precisamente sobre ele as
primeiras palavras deste blog tentando reproduzir o máximo de informação que ao
pão daqueles tempos diz respeito.
Não me move qualquer saudosismo
do que naqueles tempos era a vida quotidiana das pessoas até por que vivi parte
dela, mas entendi que seria importante divulgar a forma como as pessoas
trabalhavam e viviam, de uma forma que,
contada na primeira pessoa tem, na minha opinião, maior credibilidade
principalmente nos pormenores dessas situações.
Ao longo de vários artigos serão
descritas de forma tão minuciosa e fidedigna que conseguir, as diferentes fases
que levam a que, no final se possa comer “PÃO”.
Não vou dizer que estas linhas
esclarecerão muitos sobre o facto de o pão não vir do supermercado ou da
padaria pois isso é uma frase já gasta e
que alguns acham que fica sempre bem referir.
Vou sim, relatar e explicar, muitas
vezes na primeira pessoa, as tarefas que se faziam para no final se poder comer
uma fatia (aqui dizia-se “Fatiga” ) de pão. É também para mim óbvio que essas
ou outras tarefas continuarão a ser executadas mas agora com a utilização de
novas técnicas e tecnologias que entretanto foram aparecendo e não
necessariamente nos mesmos locais que antes eram trabalhados.
Embora não o deseje,
principalmente nos moldes das décadas
referidas no inicio, creio que dentro de algum tempo, provavelmente muitas pessoas terão de voltar ao mundo rural e aí,
certamente vão ter de produzir não necessariamente apenas pão, mas
provavelmente outras culturas mais adequadas aos solos de cada local. É que,
com o desemprego a crescer, a vida nas cidades tornar-se-á insustentável para
quem não tenha um emprego. E, nessa altura, quem não quiser emigrar terá
necessariamente de voltar ao campo, onde pelo menos poderá subsistir.
Será uma forma de repovoar o
interior? Preferia que tal fosse conseguido por livre vontade dos futuros
residentes e não por imposição de uma situação criada, para a qual os
destinatários certamente foram os que menos contribuíram.
As tarefas conducentes à obtenção
do pão, iniciam-se como facilmente se percebe, pela preparação da terra onde a
ceara se virá a desenvolver e que depois dará origem ao grão, à farinha, e, finalmente
ao pão.
Por isso, ao longo de vários
textos a publicar com a regularidade que for possível irão ser descritas as
tarefas parcelares que conduzem à obtenção de uma fatia de Pão, que como
perceberão são muitas, árduas, e deslocadas no tempo, se se quiser manter a
produção com um ritmo de continuidade. É que as pessoas todos os dias comem e quase sempre, pão.
Será, quando isso se justificar,
feita referência aos instrumentos de trabalho utilizados em épocas remotas para
o desempenho das tarefas agrícolas que conduzem à obtenção do Pão.
(continua….)